Tuesday, March 4, 2008

crime

Não.
Porque todos os vizinhos o conheciam bem. Nunca o tinham visto tocar num copo sequer, nunca por uma vez o ouviram trautear uma modinha. Há anos que era um homem rigido, mas um bom homem.
Nada.
Desde que a mulher tinha ficado desfigurada, a cara feita em caramelo depois de um acidente doméstico com um fogão, ele apenas sorría por simpatia, por delicadeza, para não desiludir quem lhe procurava animar o rosto duro, os traços tristes.
Ninguém.
Ninguém acreditou na história da vizinha de cima, que ele vinha bêbedo, a cantar a plenos pulmões pela rua fora, noite dentro. Essa sim, era uma pessoa má, a vizinha, sempre a gozar com eles, a dizer que pessoas assim deviam vir em pacotes de 6/8 gramas, ou em colheres minúsculas. Tinha sido ela, sempre a dizer que o café sabia mal sem eles, mas que a sociedade ficava bem melhor.
Não.
Não havia lugar a acidente. Era crime, era maldade, era coisa de assassinos.
Porque só uma assassina despejaria um balde de água na cabeça do doce Homem de Açúcar.

2 comments:

Ninguém said...

Ah ah ah!!!

Fabuloso!

Adorei!

Devaneante said...

Excelente este sapato! Gostei muito de o calçar...