Monday, June 25, 2007

3+1 = (4/2)^2

A soma do primeiro número primo com o primeiro número impar é igual à metade do resultado elevada à potência dele mesmo dividida pelo primeiro número par inteiro superior a zero.

Tuesday, June 5, 2007

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Todos os dias, quando volto de qualquer sítio onde vá mais por ter do que por querer, volto pela auto-estrada. Antes era diferente, deixava-me ir tranquilamente pela marginal, ou talvez não tão tranquilamente, mas marginal sempre. Por motivo nenhum, simplesmente era assim.

De há uns meses para cá que sinto pressa, e na pressa meto-me no deitado bicho cinzento que não serpenteia. Disse por pressa, mas acho que essa fase já passou, e está agora mais no automatismo. Quando volto pelo mar é mau sinal, ou simplesmente sinal de que algo em mim precisa de ver mais do que rails e faróis de carros. O mar aparece-me assim nos espaços entre carros da hora-de-ponta, azul e da cor do Sol.

Ontem senti o apelo do mar. Não senti necessidade nenhuma da minha parte, mas apeteceu-me simplesmente completar o dia olhando para ele. Era tarde e não podia parar, apertar-lhe a mão ("andam a tirar-me tempo de ti"), dizer-lhe qualquer coisa e ele a mim.

Pus o The Field a tocar, com a música que me disse uma voz ser do Sol.

Lembrei-me e sorri da incongruência de ser eu e evoluir sendo eu: o miúdo que aos 10 anos adorava a praia, aos 14 fugia dela, e aos 15 não tirava a tshirt, apaixonou-se platónica e lentamente pelo mar aos 16 e aos 22 chorava de saudades dele e só dele... debruçava-me sempre do mesmo parapeito, onde se via o fim da cidade que era demasiado grande, e quase tentava adivinhar as ondas por detrás dos 650kms de montes à minha frente.

Todos os dias fazia isto, de todas as vezes que o sol se pôs eu impunha-me caminhar sozinho e vê-lo pousar no mar, como se não o pudesse fazer sem mim, como se eu o pudesse ver a ele.
O Sol foi o meu primeiro filho, que não adormecia sem que eu o visse deitar-se, sem que eu lhe apagasse a luz e lhe desse as boas noites.

Ontem o apelo do mar foi um bocado assim... chamou-me o lado paternal, queria ir deitar-se, queria ver-me. Não lhe expliquei que ao contrário do sol ele não dorme nunca. Há sempre costas para tocar, navios para levar a casa...

A hora de ponta tirou-me dele, afastou-me do abraço que lhe queria ter dado, da explicação que lhe era devida, porque um pai sussurra sempre uma resposta a um filho.

Olhei para ele até a última curva nos deixar de costas voltadas, cegos os dois um para o outro. Nesse momento ele adormeceu para mim e eu para ele.

Ele foi entregar os seus marinheiros, as suas tempestades, as chuvas que caem em ninguém.
Eu tive de resistir para não gritar "estou aqui!" ao dedo de azul que vejo entre prédios.