Monday, December 22, 2008

Bocage - Relatório e Contas (1889)

"Profundamente inquieto, Bocage percorre a sala de um lado ao outro infinitas vezes, sob o olhar atento do seu contabilista. De súbito, detém-se:
- E o Amor, Artur? - pergunta. - Onde está afinal o Amor?
Retirando uma folha da resma que tinha à secretária, o contabilista responde-lhe de pronto:

- Está aqui, Sr. Bocage: Existências, bens pereciveis.
O poeta volta a sentar-se.
- Claro, Artur. Bens perecíveis..."

Thursday, December 18, 2008

existenciais

What kind of man will Bubble-Boy grow up to be?

Monday, December 15, 2008

ide...

...nas Pás do Senhor.

o Pai Natal não existe...

... é apenas um part-time do Capitão Iglo durante as férias.

Wednesday, December 10, 2008

Manifesto do Sono (com e sem h)

"- Integrar na vida activa uma franja marginalizada da população nacional.
- Combater o défice produtivo mediante novas políticas de trabalho.
- Optimizar o horário nocturno, a exemplo do que acontece no horário diurno.
- Valorizar a totalidade do capital humano nacional.
- Minimizar, se não eliminar, assimetrias sociais, oferecendo oportunidades àqueles que anteriormente não as tinham.
- Fazer face à crise global, com acções construtivas que voltam a colocar o país na vanguarda das políticas de, e para, o Desenvolvimento.
(...)"

Os tópicos, lidos um por um pelo Chefe de Estado em discurso perante uma Assembleia semi-despida de representantes nacionais, iam recolhendo ténues ovações de uma bancada, insípidas manifestações de desagrado por parte de outra, e um muito vincado silêncio entediado por parte das restantes. O projecto-lei seria, uma vez ultrapassada uma fase de pergunta-resposta ("Olhe que não, Doutor..."; "Vamos falar verdade, senhor primeiro-ministro...") pouco menos que automatizada, votado e aprovado.

Significava isto que todos os membros da população nacional em idade adulta seriam integrados, mediante mecanismos pré-estabelecidos em acórdãos, leis, alíneas, de forma progressiva na vida activa. A medida, com efeitos imediatos, partia afinal de uma simples premissa, facilmente apresentada em forma de pergunta:

"Que motivos reais e racionais existem para que um país com uma elevada taxa de desemprego pare de forma tão evidente durante as horas da noite?"

De maneira a assegurar o perfeito funcionamento dos fluxos urbanos e maximizar o tempo disponivel sem sacrificio do mesmo em actividades acessórias como deslocações (casa -> trabalho \ trabalho -> casa) foram criadas habitações próprias para os trabalhadores deste horário nocturno. O fim das deslocações nocturnas tinha ainda um outro ponto a favor: perante o volume irrelevante de trabalho, os transportes públicos nocturnos deixavam de ter expressão ou significado, pelo que os seus activos humanos seriam reintegrados à luz das novas filosofias de trabalho.

Os alojamentos viriam a surgir em poucas semanas, mudando completamente a face das cidades: eram, na sua esmagadora maioria, compostos por enormes torres pretas, de traço arquitectónico simples. Todos os prédios contavam numerosos quartos, andares, algumas portas e nenhuma janela. Tudo para que a luz do dia não perturbasse o descanso daqueles que tão voluntariosamente aplicavam as suas forças durante a noite em tão elevada causa nacional.
Foi num dia solene, marcado por um evento simbólico numa qualquer vila remota, que todos os reintegrados tomaram posse das suas novas habitações. Para elas foram transferidos novos e velhos, cegos, brancos, pretos, apáticos, irrequietos e incómodos. Todos aqueles que no momento da publicação em Diário da Republica se encontravam sem ocupação fixa, sem rendimento declarado.

O país dividiu-se então em dois: dia e noite, cada facção separada por uma enorme barreira, uns pelo lado de dentro, outros pelo lado de fora. Lentamente, após alguma contestação, os do dia acabaram por se acomodar ao luxo da Luz, ao conforto da sensação de que, ao fim de cada dia de trabalho, a missão não só estava cumprida, mas era, acima de tudo, prosseguida, num movimento imparável que, indubitavelmente se revelaria benéfico para todos. E esse sentimento era exponencialmente rejuvenescido de cada vez que olhavam ao longe as enormes torres negras.

Mas, e é apenas para dizer isto que este texto existe:
À terceira semana, longe dos olhares exteriores, entre os poços dos elevadores e sobre os degraus das intermináveis escadarias, já todos os habitantes das torres tinham aprendido a voar.

Thursday, December 4, 2008

torralta

Não sou esquizofrénico, tenho é um complexo sistema de timesharing em funcionamento na minha cabeça.

Tuesday, December 2, 2008

instantâneo

Saiu de casa munido de uma mangueira e de uma enorme colher de sobremesa.
Se o Mundo estava feito em pó, ele ia arranjar maneira de o beber.