As ruas são o seu principal passatempo. Passeia-se por elas e observa a toda a sua volta. Sempre viveu na cidade, e se pensou por um momento na possibilidade de ir viver onde se vive o mar, ou o campo ou a serra, passou-lhe o pensamento num momento também.
Acha que a humanidade é a prova viva da existência de Deus, pois ambos são exactamente a mesma coisa. O Homem criou monstros que verga ao seu poder de Pai e Criador, habita neles, voa neles.
Gosta de prédios. Nos seus passeios pelas ruas observa-os, fala com eles, segreda-lhes ao ouvido que eles não têm. Diz-lhes que os ama, que os quer, que são eles que fazem a cidade ser assim deliciosamente castradora, no seu abraço de que ele não consegue fugir.
Encantam-no sobretudo os prédios que se escondem por detrás das estruturas metálicas. Os andaimes, expressão que ele odeia por ser simplista, suja. Secretamente chama-lhe roupas.
À noite, quando os carros se reduzem a massas rápidas e sussurrantes que passam sem olhar, ele pode ficar a sós com os edificios que lhe prenderam o olhar e lhe roubaram os suspiros durante o dia.
Escolhe os que têm estruturas exteriores e sobe-as. Consegue fazê-lo com o silêncio de quem ama em segredo durante a noite. Lá no alto sente-se seguro nos braços dos gigantes e descansa como não pode durante o dia. Volta a repetir as palavras que disse à luz do Sol e sente no vento frio das ruas iluminadas por candeeiros dispersos o sorriso do seu amado.
Uma mulher, um homem, são objectos demasiado pequenos para poderem ser objectos de amor. À grandeza do Amor, ele celebra-a assim, à frente da janela, à frente do vidro que o afastaria do Mundo.
Assim, escondido do lado onde cai a sombra durante o dia, respira fundo e sente-se feliz nos braços do monstro de cimento, que sem pernas não pode fugir.
Thursday, April 26, 2007
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