Wednesday, September 17, 2008

intempérie é sempre uma palavra escondida

A Luz morreu num fim-de-tarde de Verão.
O Mundo não caiu numa noite perpétua, as árvores não ficaram esculturas de gelo. Tudo ficou exactamente igual.
Levaram-na a enterrar numa cerimónia de silêncio. Para fazer soar as três salvas usaram-se espingardas mudas, e só estiveram presentes a família e alguns amigos chegados. O caixão era forrado a espelhos, e mesmo depois de tapado com terra, ninguém podia olhar para o chão mais de dez segundos sem que lhe doessem os olhos.
Muito mais tarde, era já Inverno, um par de mãos escavou um buraco na areia de uma praia.
O Mar rugia, o vento atravessava a carne e cortava-a de frio.
A 50 cms de profundidade, as mãos pararam com o toque de um calor perdido.
Era afinal ali, debaixo dos pés de todos, que os dias de Sol se escondiam das nuvens.

1 comment:

Ricardo said...

Eu quero dizer que este senhor é grande, em muitos sentidos. Embora alguns eu com todo o gosto me prive de saber.
De qualquer maneira és grande, agora e sempre.

Continua a guardar sapatos.