Tuesday, September 9, 2008

8

Ficaste presa no monstro, o monstro de milhões de mãos. Ele teve tempo suficiente, anos para te desfazer, em pedaços tão pequenos até deixares de existir.
Cada mão guardou o seu pedaço de ti, mas nenhuma delas sabe como o usar, nem para que serve.
Tal como há escalas de terramotos e de tempestades, também há uma para desaparecimentos. Os que derrubam paredes, os que fazem oscilar suavemente o candeeiro da sala, os que são praticamente imperceptíveis; os que se curam e os doentes terminais da invisibilidade. As pessoas podem desaparecer, num enorme e magnifico número de magia cruel.
É uma linha de terra que pode ser atravessada sem que os olhos toquem nos sonhos. No fim, mesmo no fim, derrete-se em bifurcações, tantas que nunca ninguém as poderá vasculhar todas.
Todas as crenças têm os seus gestos. É assim que os fiéis de algo se identificam entre si.
Que ainda acredites.
Põe a tua música.
A caneta acaba assim de dançar a sua última dança com os olhos postos em ti.
Foi esta que ficou por dançar.



"...inventa un buen final, un final que no nos deje asi..."
(inscrição na parede de um bar em Madrid)

1 comment:

Post-It said...

Qual é a diferença entre desaparecidos e perdidos?
Belo texto.