Chovia-lhe ao ouvido.
Perguntou-lhe se também ouvia a chuva. Claro que não, qual chuva?
Chovia no espaço entre as vozes, um espaço que não tinha sitio, nem Tempo. Um espaço de existência sonora. Meio decibel quadrado.
Aí as palavras encharcavam-se de ruído e estática. Um enorme cheiro a terra húmida.
São sempre as afinidades da água que recebem e transformam para voltar a dar.
Fechou-se outra vez.
Foi assim que morreu afogado: em pé, no meio da rua, esmagado por uma chuva que só ouvia.
1 comment:
Belo texto. Gostei sinceramente
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