Sunday, October 14, 2007

Trabalho.

Tinha sido o primo a aconselhar-lhe aquele trabalho. Um amigo também o tinha feito e até o meteram logo na Alemanha. A coisa fôra de tal maneira que nunca mais ninguém lhe tinha posto a vista em cima. Mais tarde o supervisor diria que o tinha visto com uma alemã loura a desaparecer numa carrinha descapotável.
Assim disseram ao primo. Assim o primo lhe disse a ele. Por isso candidatou-se.
Desconfiou quando o aceitaram logo:
- Apareça amanhã. Começamos já com a formação. – dissera-lhe a entrevistadora com um sorriso. – O nosso dress-code é branco.
“Branco?..”, pensara.
No dia seguinte lá foi, vestido de branco. Foi recebido pelo chefe do departamento que o convidou para o pequeno-almoço.
Depois, tudo o que se lembra é de já estar lá dentro. Lá, no plástico.
Percebeu logo que ia ficar lá muito tempo. Aconchegou-se. Passou muito e muito tempo no escuro…
A luz, o voo, a queda…
Sentiu a água envolvê-lo. A dor nem chegou a mordê-lo. Não lhe entrou na cabeça. Consumiu-o imediatamente.
Enquanto se sentia efervescer no copo, pensou no primo, no amigo do primo, na alemã loura e na carrinha descapotável.
Sempre fora um Alka-Seltzer honesto.
Se não fosse morrer ali naquele momento, no dia seguinte não apareceria no trabalho de branco. Iria de amarelo, como o primo, que é suplemento de vitamina C.

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