Monday, October 29, 2007
O Absolutismo - uma justificação matemática.
Ou seja:
0, <-------- Zero à Esquerda
Pode-se pôr os algarismos que se quiser à direita da vírgula, mas se há um Zero à Esquerda, então o valor será sempre baixo.
Dir-se-á: "E se houver algarismos à esquerda do Zero à Esquerda?"
185730, <---------------- algarismos à esquerda do Zero à Esquerda.
Como se vê pela representação, não se trata já de um Zero à Esquerda, mas sim de um Zero ao Centro-Esquerda. Se por um lado confere valor, menos verdade não é que quem está realmente à Esquerda são os restantes algarismos, e estando nas unidades, qual será o seu real valor face aos elementos mais à Esquerda? Encontra-se dependente deles para ter um verdadeiro peso. A coisa vale pelo conjunto.
Zero ao Centro:
0
,
É na realidade um Zero. Há também uma virgula. Mas um Zero ao Centro é um Zero. Uma nulidade.
Um Zero à Direita, por seu turno, é na realidade um elemento redundante:
,0 <------------- Zero á direita.
Mesmo com o apoio dos seus pares à Esquerda, pouco ou nada contribui para a definição do valor do conjunto:
57239,0 <------------------ Zero à Direita.
O Zero ao Centro-Direita tem já algum peso para o número em si:
x,01 <--------------------- Zero ao Centro-Direita
Quantos mais Zeros ao Centro-Direita, menor será o valor dos elementos à Extrema-Direita.
x,01 > x,009 <------------ Diferentes valores para diferentes números com Zero ao Centro-Direita.
Tendo já adquirido a fundamentação teórica para os diferentes posicionamentos de Zero num eixo X, trazemos agora à consideração um eixo Y, num referencial (X,Y), em que:
Y
^
|
|
|
|--------------------> X
,
Assim, surgem novas possibilidades, de entre as quais nos debruçamos agora sobre uma em particular:
Y
^
|
| 0
| 1
|--------------------> X
,
Ou seja:
X1 < X0 ^ [e] Y1 < Y0
Estamos assim perante o Zero Acima.
Esta situação é também vulgarmente representada sem o recurso ao eixo, no que chamamos uma "potência".
10 <------------------ 1 à potência de Zero (ou 1 sob Zero Acima)
As leis vigentes da Política, e os mais recentes estudos feitos pela massa critica do Povo e alguns intelectuais, permitem-nos considerar verdadeira uma premissa nascida nos meios académicos mais prestigiados e que é hoje corrente entre todos os sectores da sociedade:
"Para o Governo, todos somos apenas números."
Posto isto:
As leis da Matemática dizem-nos que "qualquer número elevado à potência de Zero é igual à unidade". Ou seja, qualquer número sob a influência do Zero-Acima, independentemente do seu valor original, assume o valor da unidade.
89^0 = 1
194525,385 ^0 = 1
Assim, consideremos os índices de satisfação por quadrantes:
Em Y é conseguida a satisfação: o Zero encontra-se acima dos seus pares, exerce o seu poder e consegue assim prazer hedonista.
Em X:
Para Zero à Esquerda e Zero ao Centro-Esquerda: Satisfação conseguida. Todos os algarismos se tornam iguais sob a influência de um elemento comum. A teoria reforça esta ideia.
Para Zero ao Centro: Continua ao Centro. Não perde a sua qualidade de Centro e assim todos os restantes elementos lhe são ainda periféricos. No entanto, continua a ser uma Nulidade, e a consciência da sua natureza de elemento nulo deprime-o e remete-o a um silêncio orgulhoso.
Para Zero à Direita e Zero ao Centro-Direita: Posto que X1 < X0 ^ [e] Y1 < Y0 torna-se claro que o posicionamento de Zero-Acima é no fundo no fundo, à Direita, o que pode ser reforçado pela análise do esquema gráfico apresentado anteriormente. Assim, a satisfação é conseguida pela clara identificação de Zero-Acima como um dos pares de Zero à Direita e Zero ao Centro-Direita.
Exercendo o seu poder de forma igualitária perante todo e qualquer número, a partir do seu plano superior, é o Zero Acima o verdadeiro elemento unificador de todos os números, e por conseguinte, da Sociedade, considerando a premissa supracitada.
Para o menino Eolo...
ÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Thursday, October 25, 2007
Tuesday, October 23, 2007
Aproximação ao Mar.
Moral da história.
O outro fez-lhe um ligeiro cumprimento com a cabeça e respondeu em voz calma:
- E quem lhe disse que o fim é exactamente onde sai? Julga-se importante a esse ponto?
- Mas repare... - preparou-se para argumentar com a mesma calma - eu saio na paragem indicada como o destino final para esta carreira.
- Sabe que... bem, eu permito-me a liberdade de não me render a um nome na frente de um veículo. É por isso que apanho o autocarro e não o eléctrico.
- Mas aqui não há eléctricos...
- Pois não.
Respirou fundo... se calhar era exactamente o tipo de conversa que esperava.
- Ouça... acho que não gosto da sua atitude. - disse-lhe, depois de uma pausa.
- Nem eu da sua. - respondeu o outro, prontamente.
- E no entanto sempre conseguimos partilhar o autocarro, a paragem.
- O silêncio pode mais do que se julga, meu caro amigo.
- Bem, será então melhor calar-me.
- Permita-me dizer-lhe que, caso não saiba, o silêncio é como qualquer outro bem precioso: uma vez quebrado, o seu valor cai abruptamente. O seu novo silêncio, esse que oferece, lamento dizer-lhe, já não compra uma coexistência pacifica.
Quis resolver o assunto. Uma última questão:
- Diga-me para onde vai, por favor. Satisfaça-me a curiosidade.
- E se lhe disser que acompanho a carreira até voltar precisamente aqui?
- Estaria no seu direito.
- Não fujo aos meus direitos. - sorriu o outro.
- É isso então que faz? Volta para aqui?
- Eu não disse isso...
O jeito arrogante e teatral daquele homenzinho tinha-lhe ganho finalmente. Agarrou-o pelo casaco, mas sentiu algo estranho.
- Este casaco... quem o fez assim?
- Assim como, caro senhor? - sorriram novamente os olhos brilhantes.
- Assim, largo...
- Acha mesmo que as suas mãos são assim tão diferentes das dos outros? São aliás muito parecidas, a quem as vê como eu, a quem as sente como o meu casaco, caro senhor.
- Não me chame isso. Parece um insulto na sua boca.
- Não se dá bem com insultos?
Fartou-se. Ergueu um punho direito à cara do homem, mas deteve-se no último momento.
- Escute, não me bata. - disse o homem ridiculo. - Sou frágil e quebro.
- Lamento, mas apetece-me quebrá-lo.
- Quebrado não lhe sirvo. Partido ainda menos.
- Não estou a perceber...
- Quer viver comigo? - perguntou o outro.
- Quanto tempo?
- Sete anos.
- E depois vai-se embora?
- Tem a minha palavra.
- Ok. Sete anos. Mas tente ficar calado. - concordou finalmente.
- Muito bem. - disse o outro, fechando os olhos.
O vidro partiu-se, a mão cuspiu o seu sangue de dentro para fora.
Olhou para os pontos brilhantes que se espalhavam agora no chão.
"Sete anos é muito tempo" pensou. "Porque é que ele tinha de vir numa caixa tão fácil de abrir?"
Saturday, October 20, 2007
Limpeza
Sabão
Call Center.
O que o Procurador-Geral da Républica omitiu ao Semanário Sol foi a forma como descobriu estes "barulhos esquisitos". Ao que parece, recebeu na tarde de ontem um telefonema da parte do Apoio ao Cliente do SIS, dando-lhe conta destas anomalias. O responsável pelo acompanhamento permanente e personalizado deste telefone, um sargento anónimo, aproveitou para informar o alto dignatário de que "será enviado um técnico durante a tarde de Domingo para proceder aos ajustes necessários no aparelho, ou à substituição do mesmo, em caso de necessidade".
Thursday, October 18, 2007
A máquina.
Por exemplo: se cair um botão do casaco à senhora X, ela será incapaz de bater palmas até chegar a casa e o coser novamente.
Podia ser verdade.
Esta repetição, que toda a gente faz como se estivesse na letra, explica-se por um motivo muito simples:
A primeira gravação desta música popular, foi feita em directo para um programa de rádio nos anos '30, por um grupo de cantares de uma pequena aldeia da Beira Alta. A performance teve lugar no salão de festas da aldeia, onde as condições acústicas não eram as ideais. Daí resultou um eco nalgumas partes da canção.
Assim, o "Atirei o pau ao gato" que todos cantamos hoje, mais não é do que o resultado de um erro de captação.
Wednesday, October 17, 2007
Viagem a 1969.
Ok, talvez as coisas não sejam exactamente assim. Mas eu disse que embirrava com o Tintim.
No entanto, se o vir na rua, até lhe dou uma palmadinha nas costas.
Nos anos '60 e '70 publicou-se em Portugal a Revista Tintim. "A revista dos jovens dos 7 aos 77 anos", juntava algumas histórias de BD de vários autores, à razão de duas páginas por semana para cada história.
Este é o número 19, de 4 de Outubro de 1969, e custava na altura 5$00. Está já devidamente assassinado a golpes de caneta, naturalmente. Incluia os seguintes:
"Strapontam contra Aranhex", "Astérix - O Combate dos Chefes","Taka Takata" ,"O Incrível Désiré","Achille Talon","Cubitus","Lucky Luke - Pedro Cucaracha e os Pés-Azuis","Michel Vaillant - Rallye em Portugal" e (claro) "Tintim no Tibet".
Para além das histórias (e isto é que interessa) havia também passatempos e uma parte de correio do leitor intitulada "Tu escreves... Tintim responde."
O que realmente me cativa aqui é a inocência transbordante. Talvez ainda fruto do lápis-azul, as cartas parecem todas escritas por miúdos de calções amarelos e joelhos esfolados. Por exemplo, o trecho transcrito agradece o osso (!!) que o leitor enviou ao Milou... numa carta mais adiante, responde-se a um Zeca e termina-se assim: "como são vários os Zecas que me têm escrito ultimamente, referencio que neste caso, trata-se do morador da Rua Visconde de Santarém" - hoje em dia já ninguém se pode chamar Zeca e dizer onde mora; e há quarenta anos atrás já havia o problema das traduções, com um autodenominado "Tintinzão de 30 anos" (mais parece nick do MIRC) a queixar-se da diferença entre o título em Português da história do Lucky Luke e o título original "Alerte aux Pieds bleus".
A personagem Tintim responde na primeira pessoa, o que até funciona bem. Lembro-me que em miúdo acreditava que era realmente o Tintim a responder às coisas, e que interpretava o desenho mais como uma fotografia do que outra coisa ("que giro... o cão lambe cartas").
A estreia de uma nova BD na revista - "Os Franval - Caçadores sem armas" merecia também destaque. Os primeiros esboços de uma consciência ecológica surgiam com a história de uma família que luta em África para acabar com a caça. Pelo meio há o cenário do Pós-II Guerra Mundial e os necessários Alemães como maus-da-fita, nesta fase da história ainda escondidos.
Mas isto levanta-me uma questão: passam a história toda a mandar vir com os Alemães, com o mito da raça ariana, etc... mas depois as crianças da familia são todas loirinhas de olhos azuis.
E já agora... tem um belo chapéu Sr. Franval. Essa pele de leopardo realça-lhe os olhos e os seus ideais ecológicos.
Monday, October 15, 2007
Facto e questão.
As retrosarias são estabelecimentos frequentados na sua larga maioría por pessoas de idade.
O que me leva a perguntar: se as retrosarias são frequentadas por pessoas de idade, afinal o nome faz mais sentido relativamente aos produtos que se vendem lá, ou às pessoas que os compram?
Sunday, October 14, 2007
Trabalho.
Tinha sido o primo a aconselhar-lhe aquele trabalho. Um amigo também o tinha feito e até o meteram logo na Alemanha. A coisa fôra de tal maneira que nunca mais ninguém lhe tinha posto a vista em cima. Mais tarde o supervisor diria que o tinha visto com uma alemã loura a desaparecer numa carrinha descapotável.
Assim disseram ao primo. Assim o primo lhe disse a ele. Por isso candidatou-se.
Desconfiou quando o aceitaram logo:
- Apareça amanhã. Começamos já com a formação. – dissera-lhe a entrevistadora com um sorriso. – O nosso dress-code é branco.
“Branco?..”, pensara.
No dia seguinte lá foi, vestido de branco. Foi recebido pelo chefe do departamento que o convidou para o pequeno-almoço.
Depois, tudo o que se lembra é de já estar lá dentro. Lá, no plástico.
Percebeu logo que ia ficar lá muito tempo. Aconchegou-se. Passou muito e muito tempo no escuro…
A luz, o voo, a queda…
Sentiu a água envolvê-lo. A dor nem chegou a mordê-lo. Não lhe entrou na cabeça. Consumiu-o imediatamente.
Enquanto se sentia efervescer no copo, pensou no primo, no amigo do primo, na alemã loura e na carrinha descapotável.
Sempre fora um Alka-Seltzer honesto.
Se não fosse morrer ali naquele momento, no dia seguinte não apareceria no trabalho de branco. Iria de amarelo, como o primo, que é suplemento de vitamina C.