Sunday, May 27, 2007

Guardador de sapatos

Hoje, talvez porque me doessem os pés ou o sono que me dão os dias cinzentos, voltei a entrar na sapataria inexistente. Ao atravessar o limiar da porta, veio a senhora de sempre avisar-me que "se precisar de ajuda é só chamar".

Agradeci, e fui ver o que tinham exposto pela loja. Assim andei um bocado: vi sapatos para correr, para saltar, para ginástica, para ténis, para basket, para andar. Não, não era mesmo nada daquilo.

Chamei a senhora, ao que ela acudiu imediatamente com um sorridente "em que posso ajudar?"

Expliquei-lhe que achava todos aqueles sapatos muito bonitos, que a loja estava muito bem, mas que não era nada daquilo que eu procurava. Eu já tinha sapatos para tudo aquilo, e fora os guardados para os dias de sorrisos educadamente medidos e os de casamento, um par bastava-me. Com um total de três pares tinha conseguido fazer a festa nos últimos tempos.

Ela olhou-me com um ar meio expectante, calculei eu que por não saber então que me faltava.

Expliquei-lhe que andava à procura de mais sapatos para guardar. Que há muito que não guardava nenhuns e andava a fazer-me falta, não por qualquer situação em particular, mas pela sensação de vazio que sentia quando atravessava o sitio onde normalmente os guardo.

Ela voltou a pôr o seu ar profissional e guiou-me até uma outra sala.

Escolhi o par que mais me agradava. Outros se lhe seguirão.

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